Babás, no candomblé, são espíritos de mortos, convocados para voltar ao nosso
plano com alguma finalidade. Para invocar um babá, a mãe-de-santo vai ao túmulo
da pessoa junto com um grupo de adeptos e realiza um ritual, de que faz parte a
colocação, sobre a tumba, de uma certa roupa, às vezes colorida, às vezes coberta
de espelhos ou adornos, que será ocupada pelo espírito reanimado. Vários babás são
então reunidos em uma casa, onde chegam os adeptos e os convidados para assistir
a cerimônia. Depois que todos entram, um círculo de babás homens cerca a casa;
para quem vê, são tecidos que flutuam no ar como se estivessem pendurados num
varal, um ao lado do outro. A partir desse instante ninguém mais pode entrar ou sair
da casa. Lá dentro, numa sala iluminada, os convidados assistem à entrada dos
babás. As peças de roupa atravessam as frestas das portas fechadas, e uma vez
dentro da sala, inicia-se uma dança (se é que pode se chamar assim), ao ritmo dos
tambores e das palavras da mãe-de-santo. As crianças geralmente se encolhem
debaixo dos bancos, transidas de pavor. É proibido duvidar do que está
acontecendo; se alguém se manifesta ou deixa transparecer um traço de ceticismo, é
convidada a se aproximar. Se a pessoa tem boas relações com a mãe-de-santo, esta
simplesmente faz com que um dos babás deixe a roupa por um momento; a roupa
cai ao chão imediatamente; a mãe-de-santo então renvoca o babá e a roupa
novamente flutua e dança. Mas se a pessoa não for amiga da mãe-de-santo, ou for
um desconhecido, a mãe-de-santo simplesmente convida a pessoa a tocar no babá
para ver se é de verdade. Acontece que tocar num babá é a última coisa que alguém
em sã consciência deve fazer; a pessoa pode levar semanas para se recuperar da
surra que levará. Por isso, ninguém se atreve a se aproximar da casa durante a
cerimônia, rodeada pelo círculo de babás homens. A casa de algumas mães-de-santo
é guardada à noite por um par de babás, e ela dorme com as portas e janelas abertas
porque sabe que nenhum ladrão ousará chegar perto de uma casa com essa
proteção. Uma mãe-de-santo advertira os filhos para não
chegar tarde, pois a partir das dez da noite os babás ficavam de prontidão; certa
noite ele se esqueceu e chegou às três, e ao tentar entrar em casa foi sovado pelos
babás até quase morrer. A mãe-de-santo não pôde fazer nada, pois sabia que nada
podia ser feito; esperou os babás terminarem e então levou o filho para dentro, para
tratar seus ferimentos com os ungüentos do candomblé.
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